E
agora, que faremos com tantos produtos no banheiro e esse pouco tempo para
reflexão? Você acorda, toma banho, escova os dentes, lava o rosto... Poderia ser
uma rotina comum, rápida e salutar, mas algo se alterou. Hoje você terá que
esfoliar a pele, hidratá-la, passar protetor, rímel, base, pó, batom, blush
etc. Será que causaria grande espanto se soubéssemos quanto tempo uma mulher
contemporânea gasta por dia cuidando da aparência? Ou quantos ingredientes são
aplicados em uma área de menos de trinta centímetros - o rosto?
Se causa espanto ou não, deixo que sua
curiosidade decida. Mas causa imensa tristeza saber que milhares de mulheres se
sentem obrigadas a vivenciar essa rotina para que sejam aceitas e respeitadas
socialmente. O que aconteceu conosco? O armário do banheiro encolheu ou foram
os produtos que se multiplicaram?
-"Não
sei viver sem minha base", diz uma menina de 13 anos. Ligo a televisão e
vejo o comercial da Asepxia, sugerem de forma sutil que homens superficiais podem
ser "fisgados" com maquiagens que agem profundamente. Porque, afinal,
seres humanos podem ser superficiais, mas a maquiagem de uma adolescente não.
Mudo de
canal. É um programa de fofocas, em que uma celebridade é entrevistada, o foco
da câmera é no bumbum da celebridade, porque o bonito é pra se mostrar? Ou é
pra desnortear? Porque o discurso pouco importa, vamos aproveitar enquanto
importa. E viva a liquidez das relações, ou consumo dos corações!
Pergunto-me,
quem somos nós filhos do século 21? Será que nossa vida se tornou tão
superficial quanto um comercial de maquiagem? Não temos mais coragem de ir a
padaria de cara lavada. Será que nossas mentes estão nubladas de insegurança,
incerteza e medo? Nessa selva de concreto consumimos imagens e somos consumidos
por elas. Mas quem somos nós, se não nós mesmos.
Vou ao
banheiro, abro a porta do armário, analiso entre rótulos, embalagens e
promessas, o que teria utilidade. Dos 17 produtos restaram apenas 3, e resta
também, agora, mais tempo para que possamos refletir sobre quem somos e que
vida queremos ter. O que será da vida contemporânea e do espaço em meu banheiro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário