quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Armário do banheiro

                E agora, que faremos com tantos produtos no banheiro e esse pouco tempo para reflexão? Você acorda, toma banho, escova os dentes, lava o rosto... Poderia ser uma rotina comum, rápida e salutar, mas algo se alterou. Hoje você terá que esfoliar a pele, hidratá-la, passar protetor, rímel, base, pó, batom, blush etc. Será que causaria grande espanto se soubéssemos quanto tempo uma mulher contemporânea gasta por dia cuidando da aparência? Ou quantos ingredientes são aplicados em uma área de menos de trinta centímetros - o rosto?
                 Se causa espanto ou não, deixo que sua curiosidade decida. Mas causa imensa tristeza saber que milhares de mulheres se sentem obrigadas a vivenciar essa rotina para que sejam aceitas e respeitadas socialmente. O que aconteceu conosco? O armário do banheiro encolheu ou foram os produtos que se multiplicaram?
                -"Não sei viver sem minha base", diz uma menina de 13 anos. Ligo a televisão e vejo o comercial da Asepxia, sugerem de forma sutil que homens superficiais podem ser "fisgados" com maquiagens que agem profundamente. Porque, afinal, seres humanos podem ser superficiais, mas a maquiagem de uma adolescente não.
                Mudo de canal. É um programa de fofocas, em que uma celebridade é entrevistada, o foco da câmera é no bumbum da celebridade, porque o bonito é pra se mostrar? Ou é pra desnortear? Porque o discurso pouco importa, vamos aproveitar enquanto importa. E viva a liquidez das relações, ou consumo dos corações!
                Pergunto-me, quem somos nós filhos do século 21? Será que nossa vida se tornou tão superficial quanto um comercial de maquiagem? Não temos mais coragem de ir a padaria de cara lavada. Será que nossas mentes estão nubladas de insegurança, incerteza e medo? Nessa selva de concreto consumimos imagens e somos consumidos por elas. Mas quem somos nós, se não nós mesmos.

                Vou ao banheiro, abro a porta do armário, analiso entre rótulos, embalagens e promessas, o que teria utilidade. Dos 17 produtos restaram apenas 3, e resta também, agora, mais tempo para que possamos refletir sobre quem somos e que vida queremos ter. O que será da vida contemporânea e do espaço em meu banheiro?  

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