quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O Mundo de M. B.


                Vamo-nos embora pra Pasárgada? Se no silêncio avassalador a solidão consome a alma, lá somos amigos do Rei. Vai dizer que não sabe onde fica Pasárgada? Não tem problema. A cidade é sempre perto - em páginas que quando não lidas apodrecem à toa.
                Uns tomam éter, outros cocaína, mas aqueles que já tomaram tristeza, hoje, leem Manuel Bandeira - O poeta que entendeu a vida inteira que poderia ter sido e que não foi. Não entendeu nada? Não tem problema, os versos dançam, eles falam através dos signos, mas também falam através da sonoridade. E quanto mais se lê, mais se entende. Poemas não são comerciais que trazer o problema e a solução, eles trazem vida, vida e as vezes canção. As palavras tem esse poder, principalmente as desconhecidas, elas falam com o desconhecido dentro de nós.
                Ou vai me dizer que tu, também, não foste alimentado pelo café-com-pão banderiano? Não terás, na mais tenra infância, repetido versos sobre um trem de ferro em algum mágico castelo? Não sabe pra que serve poesia, além de ocupar espaço nas aulas de literatura? Eu sei, é complicado, poesia serve pra tudo e pra nada. Poesia não aplica a fome, apesar de alimentar a alma, ela não muda o mundo, apesar de instigar mudança, ler não é viver, apesar da leitura possíbilitar uma nova forma de existir.
                Belo belo minha bela, se queres falar de amor, fale de Teresa, Antônia, Teodora, fale da vulgívaga, falemos pois, da amada que envelheceu sem maldade.Se queres uma revolução, eu também, quero beber e cantar asneiras, pois estou farto do lirismo comedido. E se precisar se despedir, não esqueça de "À Mario de Andradre Ausente".
                Manuel Bandeira, portanto, transforma em poesia tragédias brasileiras, e em oração as lágrimas das mães que perderam seus meninos. Os poemas estão vivos, ainda que o poeta esteja morto. E suas palavras as vezes de filho, outras de amante, e quase sempre de amigo acalentarão as lágrimas de quem chora de desalento... de desencanto ou no ritmo da Jazz Band.


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